sexta-feira, 16 de setembro de 2016

A BÍBLIA

>eu, 17 anos
>na casa de um amigo jogando vidya com ele
>vontade monstra de cagar
>tínhamos comido num restaurante mexicano mais cedo
>burritos começam a querer virar espertitos na minha barriga
>digo que ja volto e corro pro banheiro
>começo a liberar el merdito
>doce alivio divino
>vou catar o rolo de papel higiênico
>acabou
>olho em volta, nada de papel
>preso no banheiro do primeiro andar da casa
>penso em gritar pro meu amigo vir me ajudar
>seria zuado pro resto da vida, melhor não
>procuro por outras alternativas ao papel pelo banheiro
>meu radar detecta dois alvos:
>a revista de carros do pai do muleque
>a bíblia da mãe dele
>dilema
>pai dele e grandão, ama carros e provavelmente e agressivo
>mãe e uma moça tranquila, baixinha e serelepe, me sentiria mal de zuar a bíblia dela
>pai dele me surraria
>0 fodas dadas pra religião (era ateu revoltz na época)
>arranco umas paginas do meio do velho testamento
>ninguém lê essas partes mesmo
>papel fino como a foda, corta minha bunda pra caralho
>10 paginas depois, estou limpo
>levantando a calça quando sinto o segundo impacto
>nem deu tempo de dar descarga
>minha bunda virou uma das sete pragas do egito
>depois do terceiro round eu fico sentado por uns 20 minutos só pra ter certeza de que tinha ido tudo
>meu amigo chega e bate na porta, pergunta se ta tudo bem
>digo que já vou sair, só estou terminando de levar a família burrito ao parque aquático
>me limpo pela quarta e ultima vez
>neste moment 1/4 do velho testamento deixou de existir
>privada ta mais cheia do que devia
>tenho que ser rápido, meu amigo ta do lado de fora da porta
>tentei dar umas descargas fracas pra ver se descia, mas tem muito papel
>vejo que tem sabão anti-bactéria na pia
>posso lavar as mãos
>enrolo as mangas da camisa e começo desentupir com as mãos
>de joelhos misturando a massa de bolo de chocolate com papel
>oqueaconteceucomaminhavida.jpg
>acho que foi suficiente, dou descarga
>começa a transbordar
>paginas rasgadas do velho testamento cobertas de merda começam a se espalhar pelo chão
>privada começa a fazer barulho pra caralho
>amigo começa a socar a porta e pergunta o que eu to fazendo
>privada começa a fazer mais barulho
>parece um idoso arrotando e tendo um derrame ao mesmo tempo
>barulho para
>eu o tempo todo em choque, ajoelhado com as mãos cheias de merda na testa
>amigo arromba a porta gritando
>para no meio do grito, olhando pra mim
>eu pasmo, sujo de bosta nas mãos e no rosto
>tem um pouco na minha calça
>água amarronzada e paginas do velho testamento cobrindo o chão
>bíblia da mãe dele no chão, ensopada com sopa de fezes
>escuto os pais deles chegando da sala
>amigo paradão perplexo, não sabe o que fazer
>a mãe dele vê o banheiro, fica em choque e começa a chorar
>"Minha avó me deu essa bíblia um mês antes de morrer de câncer"
>o pai dele chega poucos segundos depois
>chocado, mas vê as paginas da bíblia e começa a rir
>sai andando, ainda rindo
>da um berro no fim do corredor
>"Anão, tu tá FUDIDO"
>mãe do amigo aos prantos
>"Por que você fez isso, Anão?"
>varias e varias vezes
>eu começo a chorar também, mas pareço um babuíno raivoso quando choro
>ela pensa que eu to zoando com a cara dela e sai chorando mais
>escuto o pai dele abrindo uma cerveja na cozinha
>tento me explicar pro amigo, me da um soco na cara
>me puxa pelo capuz do casaco e me bota pra fora da casa
>na rua, por volta de 2km da minha casa, sem carona, coberto de merda e papel
>começo a andar de volta pra casa
>10 min depois uma moça para e pergunta se preciso de carona
>aceito
>começa a dirigir
>percebe a merda secando em mim
>jogando conversa fora
>alguns segundos depois ela sente o cheiro de merda tomando conta do carro
>encosta na calçada, começa a falar chines e sinaliza pra eu sair do carro
>sim, era uma chinesa, mas falava português normalmente
>saio do carro
>ando mais um pouco (quase em casa já)
>chego em casa, entro escondido dos meus pais e tomo um banho
>tento ligar pro meu amigo pra me explicar, ninguém atende
>quarta tentativa, meu amigo atende, grita dizendo pra eu parar de ligar e desliga na minha cara
>na semana seguinte os vizinhos e coleguinhassrsrrs do colégio ficam me olhando muito
>começo a ouvir "odiador de mães", "garoto satânico" e "velho borramento" pelas costas
>os apelidos se espalham como fogo em palha
>juvenis que nunca falaram comigo me chamando essas parada
>uma das minhas amigas mais próximas que e crista se afastou de mim e acabou parando de falar comigo de vez
>a historia chega no ouvido dos professores, alguns dias depois sou chamado na sala do diretor
>me diz que estou sendo expulso por "ridicularização nojenta de crenças religiosas"
>meus pais descobrem
>mãe começa a agir estranho comigo
>mais tensa, me olha bastante
>parece que ela pensa que não me conhece
>meu pai pensa que eu só to na minha fase rebelde e preciso de tratamento mais rígido
>2 horas depois, ele ta no telefone com um recrutador do exercito
>alistado
>fast forward pro quartel
>tudo bem de início
>primeiros dias foram tensos, mas meu corpo começa a se acostumar
>um dia eu recebo um envelope de um pessoal do meu antigo colégio
>tava cheio de fotos minhas, fotolojadas pra parecer que eu limpava a bunda com a bíblia
>atrás de cada foto tem um apelido
>um cara curioso vem e tira o envelope da minha mão
>uns minutos depois o quartel inteiro ta passando as fotos e rindo como a foda
>alguns acharam o email do meu amigo e perguntaram sobre a historia por trás das picas
>algumas horas depois eu percebo um cara me olhando pra caralho
>descubro que ele veio de uma família muito conservadora e me odeia pelo que eu fiz
>ele esbarra em mim e eu tenho puxar assunto
>quando ninguém mais prestava atenção, ele disse que se algum dia estivéssemos em combate
>ele atiraria em mim e diria que foi bala perdida
>percebo que os sargentos me deixam de fora dos treinamentos varias vezes
>começamos a treinar com munição de verdade
>dia do treinamento com munição real
>vou pro banheiro de manhã
>percebo que todo mundo ta me olhando
>no vaso, percebo que tiraram o papel todo, e não tem nada lá exceto uma bíblia
>começo a gritar, só ouço risos como resposta
>todo mundo vai treinar e eu fico lá
>começo a arrancar páginas daquela putanhesca e me limpar como se não houvesse amanhã
>corto minha bunda again, começa a sangrar
>começa a pingar sangue em tudo, não tem como botar o uniforme sem manchar
>arranco um maço de páginas, enrolo e coloco entre as nádegas, tipo uma salsicha em um pão
>arranco mais umas paginas e faço uma especie de fralda geriátrica
>uso sob o uniforme
>faz barulho, mas eu vou me atrasar se for ajeitar
>antes do treinamento armado temos que marchar em formação
>10 minutos marchando e o sargento percebe o som
>sargento pede pra todo mundo parar e pergunta quem ta lendo
>todos olhando pra mim
>sargento me pede pra correr sem sair do lugar
>barulho alto como a fornicação
>me pergunta o que a fornicação é esse barulho
>garganta fecha, não consigo responder
>da ordem pra eu baixar as calças
>fraldinha geriátrica do vietnam exposta
>ele xinga baixinho e me diz pra dar 200 voltas no acampamento
>meia hora depois, correndo pela mata menos visível do acampamento
>ninguém mais ninguém menos que XxVingador_de_JesusxX que disse que me mataria se pudesse, sai de trás de um arbusto
>tem uma garrafa de dreher (pra quem não manja, é um uísque) em uma mão e uma pistola na outra
>me acerta na cara com a garrafa e me da um tiro no pé
>joga uísque na minha boca e na minha cara enquanto eu grito
>sai correndo
>sargento vem me procurar
>caso é registrado e investigado
>vingador inventou uma lorota lixosa
>disse que eu bulinava ele por causa da religião
>e zuando ele por estragar a bíblia dele
>eu sou exonerado por intolerância religiosa, beber e imprudência
>descobri depois que ele só recebeu uma advertência formal por ter desaparecido do exercito
>me mudo de volta pra casa dos meus pais
>meu pai desapontado comigo, mãe não fala mais
>mando meu currículo pra alguns lugares
>meu nome e história foram espalhados e nenhum negócio na cidade queria ter nada a ver comigo
>um mês depois, meu pai acha que sou vagabundo e que não procurei por emprego
>me bota pra fora de casa
>sem teto, começo a catar lixo
>vivo como mendigo por 2 anos
>desumanizante e nojento a princípio
>consigo comida nos bandejões de 1 real
>começo a ir de cidade em cidade
>as vezes revirava lixo a noite quando tava com fome
>primeiro inverno, conheci e fiz amizade com dois outros catadores
>beiço e josé
>beiço porque ele cortou a boca numa latinha quando fumava crack, o corte infeccionou e o beiço dele ficou enorme
>a namorada do josé morreu de overdose de heroina 3 meses atras
>conheci os dois debaixo de uma ponte fora da cidade
>passamos a viajar juntos
>acordo no meio da noite e escuto uns barulhos estranhos
>um chupando o pau do outro
>viro pro lado e tento voltar a dormir
>um mês depois tentaram me matar
>nos 3 andávamos por uma cidade
>vejo uma nota de 50
>todos pensamos "bebida!"
>eu quero algo bom, mas beiço é alcoólatra
>quer quantas cachaças de 5 reais puder comprar com 50 dilmas
>fornique-se, eu que achei
>josé vem pra cima de mim com metade de uma tesoura
>do nada
>me fura 2x na perna, pega o dinheiro
>filhos da puta correm
>nunca mais os vejo
>3 dias depois fico com febre por causa da infecção
>caio na varanda/quintal de alguém
>pus das feridas sujando meu jeans velho
>um policial encosta e me diz pra continuar andando
>tento ficar de pé, perna dói demais
>policial me levanta e grita "vai andando!"
>me empurra, seguro minha perna com dor
>ferimento aberto e sangrando de novo
>policial finalmente vê minha condição
>me leva pra um abrigo pra sem tetos na cidade vizinha
>não disse nada no caminho inteiro
>no abrigo, uma ruiva 7.5/10 chega com um kit de primeiros socorros e uma caixa de luvas
>ela parece realmente se preocupar com minhas feridas
>primeira vez sendo tratado como ser humano por uma fêmea em anos
>ereção tímida começa a se propagar nas minhas calças
>ela nota, olha com nojo
>peço desculpas
>ela ri meio nervosa e trata os meus ferimentos
>me da um tubo com antibióticos
>me diz que aquilo não vai me deixar doidão e só vale alguns trocados
>depois de alguns dias as feridas começam a cicatrizar
>abrigo me manda embora e eu volto a catar lixo
>alguns meses se passam, chegou o inverno
>vagando pela cidade, 1 da manhã
>ruas vazias
>acho um casaco de inverno em perfeito estado junto com uma pilha de lixo
>andando, vejo uma deposito na esquina
>eu sei que é uma puta, mas ela ta quase pelada
>ta bem frio, ela se treme
>chego nela e digo oi
>pergunta se eu tenho dinheiro - não
>me manda vazar
>ofereço meu casaco, ela me olha estranho por uns segundos
>diz que não pode se cobrir durante o trabalho
>me agradece e sorri
>não parece tao vadiosa
>meio usada, mas ainda tem uma pontinha de dignidade
>fiquei batendo papo com ela, pra ela não pensar no frio
>por volta de 3 da manhã um golf todo sujo encosta
>um paixão paixãoso no volante, grita "Denise"
>o nome dela era Denise
>me olha como se fosse me matar e pergunta se eu era um cliente
>digo que não, ele me diz pra vazar dali
>enquanto eu saio, ele começa a bater nela e perguntar quem eu era
>joga ela no carro
>fico pensando nela o dia todo
>durmo num beco vazio
>na noite seguinte, voltei pra mesma esquina e ela tava lá
>com o olho roxo e contando dinheiro com pressa
>ela diz que o samuca vai matar nos dois se me vir de novo
>digo a ela que só estou passando por ali
>sento atras de uma caixa no beco fora da visão dela
>conversamos noite toda, entre cada cliente
>quase 3 horas, ela me diz pra ir embora antes que o samuca chegue
>vazo
>fazemos isso por quase um mês
>formamos um laço, somos amigos
>o catador e a prostituta
>ela diz brincando que deveriam ter crianças baseadas na gente
>um dia samuca chegou no seu golf umas horas mais cedo
>me botou contra a parede com uma arma apontada pra mim
>perguntou calmamente quem eu era
>"Anão, só um catador"
>tento dizer a ele que sou só amigo da denise
>tem dois caras com ele, eles me revistam pra ver se tenho dinheiro escondido
>não tem
>realiza que não to comendo ela de graça, estou muito sujo pra isso
>me solta, me chuta e manda eu ir me fornicar
>diz que estou sujando o produto
>diz que vai atirar em mim se me vir la outra vez
>apareci no ponto da denise na noite seguinte só por uns segundos
>disse adeus e fui embora
>nunca mais a vi
>uma semana depois, estou na área urbana mais movimentada da cidade
>comendo uma lata de atum
>vejo o golf do samuca vindo na minha direção
>corro pra um beco e ele para o carro
>escuto vários pessoas atras de mim, correndo
>eles me alcançam e me derrubam
>eu viro de frente, samuca me olhando
>ele puxa uma arma e senta numa caixa
>acende um cigarro e se acalma
>"Denise é a única razão de eu não te matar hoje"
>descubro que ela inventou um monte de lorotas pra eu não ser morto
>entre elas que eu era um "contrabandista profissional procurando emprego"
>digo que manjo dos contrabandos, sou sorrateiro
>meu cérebro se caga de felicidade quando ele me pergunta se quero fazer 2k
>fode sim
>me deu um pacote embrulhado em plastico bolha e me disse pra levar pro outro lado da cidade
>não confia nos capangas dele pra fazerem o serviço
>disse que ia atirar em mim ali mesmo se eu recusasse
>obviamente aceitei
>me disse que se eu falhasse ele mataria a denise
>eu disse que conseguiria
>me da um guardanapo dobrado com um endereço e "fusca amarelo" escrito
>pego a foda fora
>quando chego no lugar tem dois chineses num fusca
>vou ate a janela
>um me vê, puxa a arma
>eu paro e tiro o envelope da jaqueta
>janela abaixa
>dou o pacote pra ele e saio de la
>algumas quadras de distância dali, escuto gritaria e pneu cantando
>viro pra trás, o fusca ta vindo pra cima de mim
>passageiro com a arma apontada pra fora da janela
>me jogo no chão quando eles passam e entro na primeira rua que eu vejo
>me escondo ate achar que eles foram embora
>ouço o carro dando voltas no quarteirão
>fico desesperado e tento correr pra me esconder mais longe dali
>me veem
>tento correr mas tomo um tiro na perna
>o carro para, um asiático sai
>me pega pela gola, mas ela rasga
>me pega pelo pescoço e me da dois tiros na barriga
>acordo no meio do mato, sem nem sinal de área urbana
>pelado, minhas roupas do meu lado, minha barriga com uma pasta verde estranha
>realizo que fui parar numa reserva do xingu
>alguns indígenas me olhando, um deles (provavelmente o que me trouxe ate aqui) vem ate mim, me pergunta se eu to melhor
>diz que estamos numa reserva do RJ, ele tinha saído pra comprar um celular (irônico não?) e me achou fudido na rua
>tento levantar, ele fala pra eu ficar deitado ou vou morrer
>algumas horas depois ele volta com um pó dentro de uma cuia de madeira
>diz pra eu cheirar que vou me sentir melhor
>cérebro alto daquele pó estranho foi a coisa mais surreal da minha vida
>sons estranhos e relaxantes todoonde
>tempo e espaço parecem não existir mais
>vejo um templo feito de olhos
>uma raposa me deu um tapinha no ombro e correu pra dentro
>eu sigo
>tem uma figura humana de água em pé do meu lado
>nos andamos e nos movemos igual
>dentro do templo tem um rolo de papel higiênico
>minha mente começa a entrar em um estado altamente perceptivo
>um momento de clareza no meio da insanidade ao meu redor
>eu realizo neste momento a natureza da vida
>uma espiral de eventos causada por um simples rolo de papel higiênico
>porra loca
>to chapado de um pó doido no meio de uma reserva indígena por causa de um fodendo rolo de papel higiênico
>no dia seguinte, o índio, decide me levar pro centro da cidade pra procurar um emprego
>me pergunta no que eu sou bom
>unica coisa que já havia feito na vida era montagem e manutenção de PCs, e era relativamente bom nisso
>me leva num centro de informática
>me apresenta pra um amigo dele que parece ser o dono
>ele pede pra eu mostrar o que sei fazer
>formato um PC, tudo certinho, removo vírus, coisas banais
>ele acha bom o suficiente e me contrata
>deixa eu "morar" no depósito da loja
>não e uma casa mas e melhor que a rua
>começo a juntar uma grana maneira
>como não chego atrasado nunca sou promovido logo
>consigo alugar um apartamento pequeno
>tudo finalmente dando certo
>3 semanas depois, no trabalho
>consertando PCs como um patrão
>pego um PC que tá marcado como "trocar RAM"
>checo o nome do cliente
>nome do meu velho amigo filho da puta
>troco a RAM, ligo
>encho o HD de cp, zoofilia, scat, outras coisas nojentas
>escondo a pasta, desligo, mando de volta
>mais tarde faço uma pesquisa e descubro que agora ele é pastor em uma igreja local
>ligo pras autoridades informando o que eu encontrei
>no dia seguinte a notícia ta no jornal
>descubro que ele foi preso, excomungado da igreja, a mulher e os filhos tão deixando ele
>filhos vão a um psicólogo infantil pra ver se foram molestados
>a vida dele vira uma merda
>ele nunca descobriu quem foi por causa do sistema de proteção a vítimas e testemunhas

A natureza da vida tem um ciclo vicioso, não?

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